Ao falar sobre a História do Brasil, vez ou outra esse mesmo assunto vem à tona: a famosa feijoada – aquela que os brasileiros consomem aos sábados acompanhada de arroz, torresmo, farofa, couve e laranja – seria um prato tipicamente brasileiro? Teria sido criado por escravos?
Esta é a história que geralmente se conta: a feijoada seria um prato criado pelos escravos a partir do feijão, um alimento destinado unicamente a eles, e de restos da carne dos senhores da Casa Grande.
Rodrigo Elias, mestre em História Moderna e Contemporânea pela Universidade Federal Fluminense e doutorando em História Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conta em um artigo para a revista Textos do Brasil que o feijão preto – aquele tradicionalmente usado na feijoada – é um alimento de origem da América do Sul, e os colonizadores já relatavam o seu cultivo e consumo pelos índios, mais especificamente os guaranis.
Mais tarde, a leguminosa cairia nas graças dos europeus que aqui chegaram, passando a servir tanto a mesa dos ricos quanto dos pobres – para estes últimos, constituiria um dos únicos alimentos a que tinham acesso. E com o tempo, o feijão preto começou a ser consumida de diversas maneiras, inclusive acompanhado de carne seca, toucinho e fubá de milho ou farinha de mandioca.
Prato europeu?
Segundo Elias, a hipótese do preparo da feijoada pelos escravos poderia ser derrubada por um fato levantado por Câmara Cascudo em seu livro “História da Alimentação no Brasil”: o de que para os africanos, muitos deles de origem muçulmana ou influenciados por esta religião, havia a proibição do consumo de carne de porco. “Como, afinal, poderiam fazer nossa conhecida feijoada?”, pergunta o pesquisador.
Em contraponto, ele observa que, na Europa, havia pratos tradicionais que já misturavam vários tipos de carne, legumes e verduras, como o cozido, em Portugual, a casoeula e o bollito misto, na Itália, o cassoulet, na França e a paella, na Espanha.
“Essa tradição vem para o Brasil, sobretudo com os portugueses, surgindo com o tempo – na medida em que se acostumavam ao paladar, sobretudo os nascidos por aqui – a ideia de prepará-lo com o onipresente feijão-preto, inaceitável para os padrões europeus. Nasce, assim, a feijoada”, diz Elias em seu artigo.
Essa história te inspirou? Aproveite que amanhã é sábado e prepare uma feijoada em casa com a ajuda dessas receitas: