Praticamente todos os pratos típicos representam culturalmente os processos históricos da formação cultural de uma determinada região. O Baião-de-dois é um dos pratos que abrange todos os estados da região nordeste e alguns do Norte, porém, é muito valorizado no Ceará.
Vindo do Ceará e apreciado também nos estados de Rondônia, Acre e Pará, o baião-de-dois rompeu as divisas brasileiras e é idolatrado em todo o Brasil. “Baião” é uma dança típica nordestina e ganhou fama com a música “Baião de Dois”, composição do artista cearense Humberto Teixeira com o pernambucano Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, em meados do século XX. A origem cearense desta receita é atestada por Câmara Cascudo, folclorista, citando a obra “Liceu Cearense”, de 1940 de Gustavo Barroso.
Muitas vezes não percebemos como a culinária de uma região reflete seus aspectos geográficos do seu lugar de origem. Esse prato remonta aos tempos de grandes dificuldades dos nordestinos que enfrentavam os períodos de seca. Nesses períodos a comida se tornava escassa e não podia ser desperdiçada e estragada. O baião-de-dois surgiu do resto das sobras de arroz e feijão misturado com queijo de qualho e carne seca que o cearense usava em sua cozinha. Assim como o arroz carreteiro, este prato surgiu da necessidade em compor uma refeição prática e nutritiva para o trabalhador das áreas rurais.
Tradicionalmente, o baião-de-dois é preparado à noite, para aproveitar o restante do feijão cozido durante o dia. Esta refeição também era muito comum trabalhadores de roçado ou boiadeiros que não podiam almoçar em suas residências, devido à distância.
A nossa receita hoje terá um formato diferente. Ela foi extraída do blog Vento Nordeste em formato de cordel:
“Se você for ao Nordeste,
Lá pras bandas do Ceará
Quero lhe apresentar
É o nosso baião-de-dois Garanto que vai gostar.
É um saboroso prato,
Que vale a pena provar,
Tem uma receita simples
Até posso lhe ensinar
Pois comi muito baião E aprendi a preparar.
Pegue o feijão de corda,
Sendo verde ou maduro.
Cozinhe numa panela,
Não deixe mole nem duro.
Estando cozido e inteiro, Fica bom lhe asseguro.
Numa panela a parte,
Refoga com alho o arroz.
Estando bem refogado, Jogue o feijão depois.
Em seguida ponha água
Que baste ao baião-de-dois.
Não esqueça de refogar
Com a manteiga da terra.
Pedaços de queijo de coalho
Quem usa a receita não erra.
Coentro use à vontade,
E assim a receita encerra.”
Agora ouça a música Baião de Dois, de Luiz Gonzaga: